Os Tipos de Ações Existentes no Brasil para Investir

 O mercado de ações brasileiro tem se mostrado um campo atrativo para diversos perfis de investidores, desde iniciantes até os mais experientes. Investir em ações significa adquirir uma parte do capital de uma empresa, o que confere ao investidor a possibilidade de se beneficiar dos lucros gerados por essa companhia, além de assumir também os riscos relacionados a sua operação. No entanto, as ações não são todas iguais, e entender os diferentes tipos existentes no Brasil é essencial para tomar decisões informadas e traçar estratégias que estejam de acordo com seus objetivos financeiros.

Neste artigo, iremos explorar em profundidade os principais tipos de ações disponíveis no Brasil, destacando suas características, vantagens e desvantagens, além de fornecer dicas sobre como escolher as melhores opções para o seu portfólio de investimentos.

1. O que são Ações?

Antes de entrarmos nos tipos de ações propriamente ditos, é importante ter uma noção clara do que são ações. Ações representam pequenas frações do capital social de uma empresa. Quando uma empresa decide abrir seu capital, ela passa a oferecer essas frações no mercado, permitindo que qualquer pessoa compre e se torne um "sócio". Em troca desse investimento, os acionistas têm direito a uma parte dos lucros da empresa, distribuídos sob a forma de dividendos ou juros sobre o capital próprio (JCP). Além disso, dependendo do tipo de ação, o acionista pode ter o direito de influenciar as decisões da companhia através do voto em assembleias gerais.

O investimento em ações, no entanto, não é isento de riscos. O valor das ações pode subir ou cair, dependendo do desempenho da empresa, das condições econômicas e de outros fatores que impactam o mercado. Por isso, é fundamental conhecer as características de cada tipo de ação e entender qual delas está mais alinhada ao seu perfil de investidor.

2. Tipos de Ações no Brasil

No Brasil, o mercado de ações é regulamentado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e as transações são realizadas na B3, a Bolsa de Valores brasileira. Existem diferentes tipos de ações disponíveis para os investidores no mercado brasileiro, cada uma com características próprias que devem ser consideradas na hora de tomar uma decisão de investimento.

2.1. Ações Ordinárias (ON)

As ações ordinárias (ON) são aquelas que conferem ao seu detentor o direito de voto nas assembleias gerais da empresa. Ou seja, ao possuir esse tipo de ação, o investidor tem o poder de influenciar as principais decisões corporativas, como a eleição de membros do conselho de administração, fusões e aquisições, mudanças na política de distribuição de dividendos, entre outras.

Características:

  • Direito a voto: Esta é a principal característica das ações ordinárias. Os acionistas ON têm o poder de participar ativamente das decisões da empresa, o que pode ser interessante para investidores que desejam ter um papel mais participativo no desenvolvimento da companhia.
  • Tag Along: Uma das vantagens das ações ordinárias no Brasil é a chamada cláusula de tag along, que garante ao acionista ordinário o direito de vender suas ações nas mesmas condições oferecidas aos controladores da empresa em caso de venda do controle. Isso protege os minoritários de uma venda desvantajosa.

Exemplo Prático:

Imagine que você comprou ações ordinárias de uma empresa de tecnologia listada na B3. Ao longo dos anos, a empresa se expandiu globalmente e agora está considerando uma fusão com uma gigante do setor. Como detentor de ações ON, você poderá votar a favor ou contra essa fusão, participando diretamente do futuro da empresa.

Vantagens:

  • Participação nas decisões importantes da empresa.
  • Maior proteção com o tag along.

Desvantagens:

  • Em caso de liquidação da empresa, os acionistas ordinários são os últimos a receber, depois de todos os credores e detentores de outros tipos de ações.

Para quem são indicadas:

As ações ordinárias são indicadas para investidores que desejam ter mais controle sobre suas participações em empresas, ou que se preocupam em ter direitos protegidos em caso de venda da companhia.

2.2. Ações Preferenciais (PN)

As ações preferenciais (PN), como o próprio nome sugere, conferem algumas preferências em relação às ações ordinárias. A principal vantagem desse tipo de ação é a preferência na distribuição de dividendos, ou seja, os acionistas de ações PN recebem seus dividendos antes dos acionistas de ações ON. Além disso, em muitos casos, os dividendos pagos às ações preferenciais são maiores do que os pagos às ações ordinárias.

No entanto, em troca dessa preferência nos dividendos, os acionistas preferenciais não têm direito a voto na maioria das assembleias gerais. Ou seja, os detentores de ações PN não podem influenciar diretamente as decisões corporativas da empresa.

Características:

  • Preferência na distribuição de dividendos: Os acionistas preferenciais têm prioridade na distribuição de dividendos e, em muitos casos, recebem valores maiores do que os detentores de ações ordinárias.
  • Sem direito a voto: Em geral, os acionistas de ações PN não participam das decisões corporativas da empresa.

Exemplo Prático:

Imagine que você possui ações preferenciais de uma empresa do setor elétrico, que é conhecida por distribuir bons dividendos. Mesmo sem direito a voto nas decisões da empresa, você será um dos primeiros a receber os dividendos, e, em alguns casos, o valor que você recebe pode ser superior ao de um acionista ON.

Vantagens:

  • Recebimento prioritário de dividendos.
  • Possibilidade de ganhos maiores com proventos.

Desvantagens:

  • Ausência de direito a voto em assembleias.

Para quem são indicadas:

As ações preferenciais são indicadas para investidores que buscam renda passiva através de dividendos, mas que não têm interesse em influenciar diretamente nas decisões corporativas da empresa.

2.3. Ações Units

As Units são pacotes compostos por uma combinação de ações ordinárias e preferenciais. Ao comprar uma Unit, o investidor adquire um conjunto de ações de uma empresa, que inclui tanto ações ON quanto PN. Essa estrutura permite ao investidor diversificar dentro de uma mesma empresa, aproveitando tanto os benefícios de voto das ações ordinárias quanto a preferência no recebimento de dividendos das ações preferenciais.

Características:

  • Composição mista: As Units são compostas por ações ON e PN.
  • Diversificação: O investidor consegue participar das assembleias e, ao mesmo tempo, receber dividendos prioritários.

Exemplo Prático:

Um exemplo comum no Brasil é a Unit do Banco Inter (BIDI11), que inclui tanto ações ordinárias quanto preferenciais. Ao comprar uma Unit, o investidor participa das decisões estratégicas do banco e tem a prioridade no recebimento dos dividendos.

Vantagens:

  • Combinação dos benefícios das ações ordinárias e preferenciais.
  • Diversificação dentro de uma mesma empresa.

Desvantagens:

  • Pode haver menor liquidez em comparação com ações ordinárias ou preferenciais separadamente.

Para quem são indicadas:

As Units são indicadas para investidores que desejam uma estratégia balanceada, aproveitando tanto a possibilidade de voto quanto a preferência na distribuição de proventos.

2.4. Ações Blue Chips

As Blue Chips são ações de empresas de grande porte, que possuem um histórico sólido de desempenho financeiro e são amplamente conhecidas no mercado. No Brasil, empresas como Petrobras, Vale e Itaú são frequentemente citadas como exemplos de blue chips. Essas ações costumam ser mais estáveis e possuem alta liquidez, o que significa que são negociadas com frequência e facilidade na bolsa de valores.

Características:

  • Estabilidade: As blue chips são conhecidas por seu desempenho estável, mesmo em momentos de crise econômica.
  • Alta liquidez: Como são amplamente negociadas, é fácil comprar e vender ações blue chips.

Exemplo Prático:

Se você possui ações da Petrobras, por exemplo, está investindo em uma das maiores empresas do Brasil e do mundo no setor de petróleo. Por ser uma blue chip, suas ações são negociadas diariamente em grandes volumes, o que facilita a compra e venda sem grandes variações de preço.

Vantagens:

  • Maior segurança e menor volatilidade em comparação com empresas menores.
  • Alta liquidez no mercado, facilitando a entrada e saída do investimento.

Desvantagens:

  • Potencial de crescimento mais limitado, já que essas empresas geralmente já atingiram um alto nível de maturidade.

Para quem são indicadas:

As blue chips são indicadas para investidores que buscam estabilidade e segurança, com menor exposição à volatilidade do mercado, mas sem abrir mão da possibilidade de bons retornos.

2.5. Ações Small Caps

As Small Caps são ações de empresas de menor capitalização no mercado. Essas companhias, embora menores, possuem grande potencial de crescimento, o que pode resultar em retornos expressivos para os investidores que compram suas ações em estágios iniciais de crescimento. No entanto, as small caps também são mais arriscadas, pois enfrentam mais desafios e possuem menos recursos do que as grandes corporações.

Características:

  • Potencial de crescimento: As small caps, por estarem em estágios iniciais de crescimento, podem oferecer retornos significativos em um curto espaço de tempo.
  • Maior risco: Por serem menores, essas empresas estão mais sujeitas a oscilações de mercado e desafios econômicos.

Exemplo Prático:

Ao investir em uma small cap do setor de tecnologia, como uma startup em crescimento que recentemente abriu capital, você está apostando no potencial de valorização rápida da empresa, mas também assumindo um risco maior de que ela não atinja seus objetivos de expansão.

Vantagens:

  • Potencial de altos ganhos em um curto período de tempo.
  • Possibilidade de investir em empresas inovadoras e em crescimento acelerado.

Desvantagens:

  • Maior volatilidade e risco, já que essas empresas podem enfrentar dificuldades maiores para se consolidar no mercado.

Para quem são indicadas:

As ações small caps são indicadas para investidores com maior apetite por risco, que buscam altos retornos e estão dispostos a enfrentar maior volatilidade em seus investimentos.

2.6. Ações de Dividendos

As ações de dividendos são aquelas de empresas que têm uma política consistente de distribuição de lucros aos acionistas. Essas empresas, geralmente, são maduras e possuem um fluxo de caixa estável, o que permite a distribuição regular de dividendos ou juros sobre o capital próprio (JCP). Investir nessas ações pode ser uma excelente forma de gerar renda passiva, especialmente para investidores de longo prazo.

Características:

  • Pagamentos regulares de dividendos: As empresas com foco em dividendos distribuem uma parte de seus lucros aos acionistas, o que pode proporcionar um fluxo de renda estável.
  • Estabilidade: Essas empresas costumam ser mais estáveis, com menor volatilidade no preço das ações.

Exemplo Prático:

Imagine que você tenha ações da Taesa, uma empresa de transmissão de energia elétrica que é conhecida por distribuir dividendos regularmente. Ao manter essas ações em sua carteira, você poderá receber uma renda passiva anual ou semestralmente, dependendo da política de distribuição da empresa.

Vantagens:

  • Geração de renda passiva constante.
  • Empresas mais estáveis e com menor risco.

Desvantagens:

  • Potencial de crescimento mais lento, já que parte dos lucros é distribuída em vez de reinvestida na expansão da empresa.

Para quem são indicadas:

As ações de dividendos são indicadas para investidores que buscam renda passiva e que desejam investir em empresas mais maduras e estáveis.

3. Estratégias para Investir em Ações

Agora que você conhece os principais tipos de ações disponíveis no Brasil, é importante entender que o sucesso no mercado de ações não depende apenas da escolha correta das empresas. É necessário adotar uma estratégia de investimento que esteja alinhada aos seus objetivos financeiros, perfil de risco e horizonte de investimento.

3.1. Investimento de Longo Prazo

Uma estratégia comum entre investidores é o buy and hold, ou seja, comprar ações de boas empresas e mantê-las em carteira por um longo período, aproveitando o crescimento da companhia e a valorização de suas ações ao longo dos anos. Esse método é indicado especialmente para ações de empresas sólidas, como as blue chips ou ações de dividendos.

3.2. Investimento de Curto Prazo

Para investidores mais experientes ou com maior tolerância a riscos, o investimento de curto prazo pode ser uma alternativa. Isso envolve comprar e vender ações em um curto intervalo de tempo, aproveitando oscilações de mercado para obter lucros rápidos. No entanto, essa estratégia exige maior conhecimento técnico e acompanhamento constante do mercado.

3.3. Diversificação

Diversificar é a chave para reduzir riscos no mercado de ações. Isso significa não colocar todos os seus recursos em um único tipo de ação ou setor. Diversificar sua carteira com uma combinação de ações ordinárias, preferenciais, blue chips, small caps e ações de dividendos pode ajudar a mitigar os riscos e aumentar suas chances de sucesso no longo prazo.

4. Conclusão

O mercado de ações brasileiro oferece uma ampla variedade de oportunidades para investidores de todos os perfis. Entender as diferenças entre ações ordinárias, preferenciais, blue chips, small caps, units e ações de dividendos é fundamental para tomar decisões informadas e montar uma carteira de investimentos equilibrada. Lembre-se de que cada tipo de ação tem suas próprias características, vantagens e desvantagens, e o mais importante é escolher aquelas que estejam alinhadas aos seus objetivos e tolerância ao risco.

Seja qual for o seu perfil, investir em ações pode ser uma maneira poderosa de construir patrimônio e alcançar a independência financeira ao longo do tempo. O segredo está em se informar, traçar uma estratégia bem fundamentada e ter paciência para colher os frutos de suas escolhas.


Referencial Bibliográfico:

  • Damodaran, A. (2012). Investment Valuation: Tools and Techniques for Determining the Value of Any Asset (3ª ed.). John Wiley & Sons.
  • Graham, B. (2003). The Intelligent Investor: A Book of Practical Counsel (Revised Edition). HarperBusiness Essentials.
  • Bodie, Z., Kane, A., & Marcus, A. J. (2014). Investments (10th ed.). McGraw-Hill Education.
  • Assaf Neto, A. (2016). Mercado Financeiro (12ª ed.). Atlas.
  • Carvalho, A. G. (2011). Finanças Corporativas: Guia prático. Elsevier.
  • Gitman, L. J., & Zutter, C. J. (2011). Principles of Managerial Finance. Pearson.

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